6 de janeiro de 2015



Foi só 'oi'. A intenção era não parecer antipática, eu tinha pressa em ir para casa, criar uma forma de mim com os lençóis, achar uma música nova ou ouvir a que eu mais gostava, decidir mudar meu mundo e  adormecer antes de descobrir como. Era véspera do meu aniversario, mas isso não importava para mim. Importou para você. Castigou a pobre arvore próxima a nós e me presenteou com alguns galhos, agradeci, mas eu só queria ir para casa.
Foi a despedida mais fria que eu já participei, passos depois eu deixei você e aqueles galhos em algum lugar da minha memória, que você mesmo resgatou com uma ligação solidária, mas estranha (quem usa telefone pra isso, né?) tentando me explicar como se virava sozinho nesse mundo caos.
Lembro de desligar acreditando que agora eu tinha mais um bom amigo para conversar besteiras nas noites sem inspiração. E para minha surpresa, antes que eu adormecesse uma massagem:"cinema?".
Dormi sorrindo, e você sem resposta.

Eu nem vi você chegando, eu não ouvi sininhos, não senti frio na barriga. Eu já sabia que contos fadas não existiam, mas sempre constatei isso chorando, sorrindo foi a primeira vez.

Se eu soubesse que você vinha para ficar, teria arrumado a casa, colocado salto, soltaria o cabelo. Mas você gostou do natural, do barzinho meia boca, das conversas intensas, das piadas intrigantes que depois de explicadas lhe arrancavam gargalhadas.
Se eu soubesse que eu ia aceitar ficar, teria tirado a poeira do coração, teria me permitido ser frágil.

Os melhores momentos não enviam ventos avisando a sua chegada. Geralmente, demoramos para perceber que estamos nele, porque projetamos momentos ideais, atitudes ideais.
Eu tenho muitos sonhos, muita energia e força suficiente para gostar de ficar sozinha. Eu não sei se vou ser capaz de deixar outros momentos assim acontecerem. Eu gostei do seu cheiro de sabonete, da mão gelada, da curiosidade infinita ("Como você pensou nisso?"), mas você não tem que saber disso...

Escrevi ouvindo.